terça-feira, 24 de novembro de 2015

[Resenha] RETROGÊNESE: Grande material de reflexão e meditação

Resenha de Mariana H. de Mello. Adquiri "Retrogênese" há alguns meses. Assim que chegou eu devorei numa sentada só! Ao terminar fiquei durante muito tempo digerindo tudo - desde imagens às palavras, filosofias e teorias. Meses se passaram e ontem terminei pela segunda vez o "Retrogênese". Agora, ao invés de digerir, percebi que estava em um processo de gestação de ideias... Procuro sempre estar a par das publicações do Ciberpajé, pois são um grande material de reflexão e meditação. Voltando o foco para o "Retrogênese ", posso dizer que fiquei extremamente impressionada em vários aspectos: primeiramente com a diferença entre essa leitura e a do álbum "Biocyberdrama" - o qual gostei muito. Em "Retrogênese " senti muito mais do que simplesmente li. Não sei se vou conseguir me explicar como gostaria, mas toda tentativa de comunicação é válida ao meu ver, então vamos lá! Ao ler senti como se estivesse vendo uma materialização das minhas próprias questões pessoais sendo traduzidas de forma clara por outra pessoa. O diálogo estabelecido na leitura, transcendeu o diálogo com o consciente. Vai diretamente para uma lembrança ancestral. Trabalha com questões tão individuais, mas ao mesmo tempo extremamente "comuns" do ser humano. Questões com as quais, mais cedo ou mais tarde, todos irão se deparar - quem sou eu, qual o meu propósito, o encontro com o desconhecido, o contato com a morte, a percepção de que tudo está conectado, a busca pelo autoconhecimento e o individualismo e a re-união ao cosmos. Ao ler "Retrogênese " ficaram algumas expressões e frases martelando na minha cabeça, e acredito que se relacionam diretamente com a obra: o conceito de inconsciente coletivo, de Carl Jung; e outra referência a qual a obra remeteu-me e ficou fortemente é a frase do Friedrich Nietzsche "Se você olhar durante muito tempo para dentro do abismo, o abismo olhará para dentro de você ". A ilustração é sensacionalmente bem equilibrada e conversa lindamente com o texto, fazendo com que a obra seja redonda, sem ruídos. Seria impossível ter as imagens separadas do texto. Um complementa e retoma a ideia trabalhada. A quantidade de símbolos é espantosa! As formas tridimensionais na capa juntamente com a serpente que come a si mesma (uruborus), sem o título da obra, é algo genial, pois já é um prenuncio daquilo com o que nos depararemos nas próximas páginas! Depois do fim da estória, há o registro do processo criativo. Se houver alguma ressalva a ser feita, acredito que esteja nessa parte. Entendo perfeitamente o porquê da existência desse "capítulo" , principalmente pensando no lado acadêmico do Ciberpajé (é professor doutor e pesquisador de quadrinhos) , vejo bem traçados os objetivos, de onde surgiu essa síntese, as referências, os estudos, etc. Mas, se fosse por mim, faria diferente: ou não publicaria junto à obra; ou colocaria de ponta cabeça no final da estória em algum "compartimento secreto". O por que disso? Na minha opinião essa segunda parte do livro é muito destoante da estória em si - ao passo em que a estória é incrivelmente etérea e cria um diálogo que ultrapassa o racional; o registro do processo criativo , por sua vez, acaba por fornecer matéria para esse corpo onírico. Mergulha o leitor em uma sequência lógica de caminhos racionais e construções de pensamentos muito concretos. Se um leitor menos atento termina a leitura do conto e resolve continuar a leitura, irá tropeçar nesse susto de realidade não esperado. Podendo impedi-lo de ter seu próprio processo de Retrogênese. Aproveito para agradecer pelo incrível material que o Ciberpajé tem produzido e que, pessoalmente, são combustíveis para conversas infindáveis comigo mesma e consequentemente combustíveis para minha própria produção artística.

Mello "devorando" Retrogênese.

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